Agro brasileiro tem metade do percentual de financiamento público em relação a países da OCDE
Banco Mundial também aponta desigualdade na distribuição de crédito e de riqueza no campo

O setor agroalimentar brasileiro recebe apenas metade do apoio público destinado ao setor em relação à média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Enquanto o financiamento público ao agro representa, em média, 10% da receita bruta do setor nos 38 integrantes da OCDE, no Brasil esse índice é de apenas 5%.
O dado faz parte do estudo “Fortalecendo o suporte à agricultura brasileira: políticas para um setor agroalimentar competitivo, sustentável e inclusivo”, divulgado hoje (dia 11), pelo Banco Mundial.
O levantamento analisa a cadeia agroalimentar brasileira como um todo — incluindo agricultura, agroindústria e serviços vinculados — e reforça a relevância do setor para o país.
De acordo com os dados, o agronegócio (antes, dentro e depois da porteira) representa 22% do Produto Interno Bruto (PIB), responde por 40% das exportações nacionais e emprega 16,2% da população economicamente ativa.
A despeito de sua alta produtividade, o setor enfrenta desafios estruturais que exigem políticas públicas mais bem direcionadas e diversificadas, segundo o Banco Mundial.
Os pesquisadores recomendam a revisão da alocação de recursos do Plano Safra, com mais foco na agricultura familiar, e o fortalecimento de áreas como pesquisa e infraestrutura rural.
“Esses desafios são exacerbados por acesso desigual a políticas públicas e serviços de extensão rural, assim como desigualdades de renda, produtividade e acesso à tecnologia, especialmente no caso da agricultura familiar”, destacam os autores.
Eles são Marie Paviot, Hector Peña, Mauro de Grossi, Elena López, María Florencia Tejeda, Victoria Traverso, Beatriz Garcia e Luisa Leite.
Apoio público em queda
O estudo também mostra que o apoio estatal ao agro tem diminuído ao longo dos anos. Entre 2000 e 2022, esse suporte representava 0,7% do PIB.
No período de 2020 a 2022, caiu para 0,5%, abaixo da média da OCDE, que é de 0,63% no mesmo recorte.
Essa retração no apoio ocorre mesmo diante de uma conjuntura que requer mais investimentos estratégicos, especialmente frente à emergência climática.
A cadeia agroalimentar é responsável por 26% das emissões de gases de efeito estufa do país e é uma das mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Segundo o estudo, estimativas apontam que enchentes, secas e outros eventos extremos causam perdas de 1% ao ano na produção agropecuária brasileira.
Desigualdade no campo
Outro ponto de destaque no levantamento é a desigualdade social no campo. O estudo estima que 3 milhões de famílias que vivem em áreas rurais estão em situação de extrema pobreza. Além disso, 18% das famílias rurais enfrentam insegurança alimentar severa.
Os pesquisadores ressaltam que, apesar do crescimento sustentado da produtividade, especialmente em culturas como soja, milho e cana-de-açúcar, os benefícios não são distribuídos de forma equitativa entre grandes, médios e pequenos produtores.
“O Brasil tem uma agricultura altamente produtiva, mas é preciso garantir que os avanços cheguem a todos, sobretudo aos pequenos produtores que continuam vulneráveis”, avaliam.
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